Satã, Uma Imagem Arquetípica do Mal… (Parte I)

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Para começo de conversa, precisamos entender que o ser humano é um ser gregário. Ou seja, seres humanos necessitam da companhia de seus pares para sobreviverem e se adaptarem ao meio. Ao nascermos somos muito frágeis e precisamos de cuidados constantes por um longo período de tempo, até que possamos caminhar com as próprias pernas. Tal arranjo levou a humanidade a se organizar em grupos para obter mais chances de caçar, coletar alimentos e criar os filhotes. Com isso podemos entender que, para o ser humano, a sobrevivência do grupo significaria a sobrevivência do indivíduo. Sendo assim, o grupo tornou-se o fundamento da existência humana e qualquer coisa que o colocasse em risco deveria ser entendida como nociva. Continue lendo »

Satã, Uma Imagem Arquetípica do Mal… (Parte II)

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Uma diferença básica parece haver entre a visão mítica do mal para os judaico-cristãos e para os povos pagãos do ocidente – e aqui incluo, Celtas, Vikings, Gregos, etc. Essa diferença diz respeito ao lugar do mal no universo e na nossa vida. Para os povos pagãos o mal era tão somente uma outra face do processo da vida. Loki, apesar de representar aquilo que os Vikings mais condenavam, não foi banido ou punido, muito menos desprezado ou negado. Ao contrário ele era um deus entre outros deuses, e suas características eram reconhecidas como estando presentes em nossas vidas e em nós mesmos. Tanto é que, muitas vezes, os outros deuses do panteão Viking recorreram a essas mesmas características “condenáveis” de Loki para conseguirem o que queriam. Mais do que isso, Loki era associado ao fogo, elemento do paraíso mítico Viking e fonte de acolhimento para quem vive em terras geladas. Isso revela um aspecto particularmente interessante da visão do “Mal” nas culturas pagãs: que é o entendimento deste como o ponto de equilíbrio necessário para a conquista do “Bem”. O que aponta para um entendimento mais tolerante da pluralidade afetiva da condição humana. Continue lendo »

Habitação Sagrada

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Um estudo sobre os significados religiosos das habitações


Por David Phillips

Revista Antropos – Volume 1, Ano 1, Novembro de 2007


(…)a habitação, com os seus arredores artificiais, é essencial à expressão da auto-identidade de uma sociedade. (…)uma tendência que é universal, de que a habitação não é considerada apenas em termos utilitários mas também como um mecanismo cultural para relacionar os seus habitantes socialmente e metafisicamente ao mundo.


(…)a habitação, como o foco da vida da família nuclear ou estendida, relaciona todos os aspectos da vida em conjunto – nascimento, educação, trabalho, matrimônio, alimento, descanso, recreação e morte – como uma participação no cosmo material e imaterial. Continue lendo »

As Metamorfoses da Carne

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“Cães Caçadores” da National Geographic

Os restaurantes ’fast-food’ oferecem uma carne caricata e desencarnada. A estratégia destina-se a atingir um alvo: as crianças, consumidores que devem ser conquistados a qualquer preço. Mas há também uma relação ocidental, ambígua, com a carne.

*Por Pascal Lardellier

A carne nos remete inicialmente à nossa natureza carnívora, portanto, de predador. É um “alimento animal” que contém, ao mesmo tempo, a vida e a morte

A carne não é um alimento comum. Possui uma densidade simbólica de que nunca serão investidas a escarola, o macarrão ou a pasta de amêndoas. Afirmar que se trata do alimento de alguma forma absoluto, é mais do que uma frase espirituosa. Vivenda (carne, em latim medieval), etimologicamente significa “que serve para a vida”. Na verdade, várias ambigüidades de natureza antropológica contrariam a relação do homem ocidental com a carne, tornando-a complexa e equívoca. Continue lendo »