A Roupa Como Linguagem

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Imagem: Foto de Ellen Von Unwerth

*Por Sergio Lage

As roupas não são apenas vestimentas que protegem o corpo ou adereços e adornos que nos embeleza. As roupas, como todos os objetos usados no cotidiano pelos homens, são partes da nossa existência diária, traduzem estados de espírito e identidades pessoais.

Elas preenchem o mundo de sentido e significado e nos ajudam a construir diversas narrativas e expressões sobre nós mesmos: sobre quem somos ou como queremos ser vistos, a nos diferenciar ou criar identificações, a ocupar posições ou oposições dentro do grupo. Continue lendo »

Moda, Cultura e Sentido

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Imagem: Foto de Guy Bourdin

*Por Renata Pitombo

O homem se veste e enquanto tal exerce sua atividade significante; portar uma vestimenta é fundamentalmente um ato de significação, para além dos motivos de pudor, proteção e adorno. “Se vestir é um ato de significação e, portanto, um ato profundamente social instalado no coração mesmo da dialética das sociedades”, defende Barthes. (…)

Em um de seus pequenos, mas astutos artigos dedicados ao tema da vestimenta, Barthes a identifica como um fenômeno concernente a todo ser humano, na medida em que diz respeito a todo corpo humano, a todas as relações do homem com seu corpo e também deste corpo com a sociedade. (…) Continue lendo »

O SIMBOLISMO DA CASA E A MÚSICA: IMAGINAÇÃO E MEMÓRIA

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Walter Melo*

A casa funciona, dentro das produções da imaginação material, como um abrigo, como um princípio de integração dos pensamentos, das lembranças e dos sonhos, em suma, como um valor de integração psíquica. (…)A casa está inscrita no corpo, não como traço mnêmico, mas como imagem de intimidade, como imagem que busca um centro, que instaura um centro, que cria um universo (Eliade, 1991). Em qualquer casa que moramos, tendemos a imaginá-la sempre mais do que ela é, pois, com esta imagem arquetípica, estamos justamente no ponto de união entre imaginação e memória(…). Continue lendo »

Habitação Sagrada

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Um estudo sobre os significados religiosos das habitações


Por David Phillips

Revista Antropos – Volume 1, Ano 1, Novembro de 2007


(…)a habitação, com os seus arredores artificiais, é essencial à expressão da auto-identidade de uma sociedade. (…)uma tendência que é universal, de que a habitação não é considerada apenas em termos utilitários mas também como um mecanismo cultural para relacionar os seus habitantes socialmente e metafisicamente ao mundo.


(…)a habitação, como o foco da vida da família nuclear ou estendida, relaciona todos os aspectos da vida em conjunto – nascimento, educação, trabalho, matrimônio, alimento, descanso, recreação e morte – como uma participação no cosmo material e imaterial. Continue lendo »

A Representação Social da Moradia

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Imagem: http://www.iisd.ca/habitat/

Por Mauro César de Oliveira Santos

A utilização da Teoria das Representações Sociais

Com vistas a avançar nessas questões, desenvolvemos estudos baseados na Teoria das Representações Sociais. Com isto pretendemos determinar elementos para uma melhor compreensão da relação do morador com a moradia e das intervenções pós-ocupação operadas, explorando o sentido atribuído à moradia, bem como tentando identificar o sistema de crenças e valores que influenciam preferências, comportamentos e expectativas.  Optamos por trabalhar com a Teoria das Representações Sociais, por seu reconhecimento da legitimidade do saber do senso comum, entendido como o saber prático que mantém a unidade das atitudes e opiniões. (…) Continue lendo »

As Metamorfoses da Carne

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“Cães Caçadores” da National Geographic

Os restaurantes ’fast-food’ oferecem uma carne caricata e desencarnada. A estratégia destina-se a atingir um alvo: as crianças, consumidores que devem ser conquistados a qualquer preço. Mas há também uma relação ocidental, ambígua, com a carne.

*Por Pascal Lardellier

A carne nos remete inicialmente à nossa natureza carnívora, portanto, de predador. É um “alimento animal” que contém, ao mesmo tempo, a vida e a morte

A carne não é um alimento comum. Possui uma densidade simbólica de que nunca serão investidas a escarola, o macarrão ou a pasta de amêndoas. Afirmar que se trata do alimento de alguma forma absoluto, é mais do que uma frase espirituosa. Vivenda (carne, em latim medieval), etimologicamente significa “que serve para a vida”. Na verdade, várias ambigüidades de natureza antropológica contrariam a relação do homem ocidental com a carne, tornando-a complexa e equívoca. Continue lendo »

Cultura e alimentação ou o que têm a ver os macaquinhos de Koshima com Brillat-Savarin?

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Por Maria Eunice Maciel

Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Brasil

O tema da alimentação é capaz de gerar indagações que levam a refletir sobre questões fundamentais da antropologia tais como a relação da cultura com a natureza, o simbólico e o biológico. O alimentar-se é um ato vital, sem o qual não há vida possível, mas, ao se alimentar, o homem cria práticas e atribui significados àquilo que está incorporando a si mesmo, o que vai além da utilização dos alimentos pelo organismo. É assim que a procura pelo sentido deste “comer” tem atraído os antropólogos de uma maneira muito particular. Continue lendo »

Os Contos de Fada no Processo de Desenvolvimento Humano

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Imagem: “O Príncipe Encantado“, Antiga Fábula Chinesa – Enciclopédia da Fantasia

*Por Joana Raquel Paraguassú Junqueira Villela

Introdução

Podem-se perguntar as razões pelas quais a psicologia junguiana se interessa por mitos e contos de fada. O Dr. Jung, disse certa vez, que é nos contos de fada onde melhor se pode estudar a anatomia comparada da psique. Nos mitos, lendas ou qualquer outro material mitológico mais elaborado obtém-se as estruturas básicas da psique humana através da grande quantidade de material cultural. Mas nos contos de fada, existe um material consciente culturalmente muito menos específico e, conseqüentemente, eles oferecem uma imagem mais clara das estruturas psíquicas (FRANZ, 1990: 25).

Divididos entre o bem e o mal, representados por príncipes, fadas e também por monstros, lobos e bruxas apavorantes, os contos de fadas encantam as crianças e os adultos desde a sua criação, que data da época medieval. Mas a sua função não pára aí, pois além do entretenimento, transmitem ainda valores e costumes e ajudam a elaborar a própria vida através de situações conflitantes e fantásticas. “Mitos e contos de fadas expressam processos inconscientes. A narração dos contos revitaliza esses processos e restabelece a simbiose entre consciente e inconsciente” – já havia dito Carl Gustav Jung, famoso psicanalista e discípulo de Freud (apud CEZARETTI, 1989: 24). Continue lendo »

O Caminho da Floresta nos Contos de Fada: Amadurecimento e Autonomia

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Imagem: Branca de Neve por Arthur Rackam

Por Angelita Corrêa Scardua


O espaço geográfico no qual os Contos de Fada se desenrolam é regido por leis totalmente diferentes daquelas que dominam o mundo cotidiano. O modo de funcionamento desse espaço constitui-se pela lógica do sobrenatural e do imaginário, ou seja, pela lógica dos conteúdos simbólicos do Inconsciente Coletivo. Da mesma forma que o inconsciente se organiza à revelia do tempo-espaço cronológico – estabelecendo suas próprias relações de causa e efeito a partir da vivência afetiva, e não dos pontos cardeais e das horas – na geografia fantástica não existem distâncias que possam ser metricamente medidas ou tempo que os dias marcados nos calendários possa delimitar. Assim, o deslocamento físico dos personagens nos Contos de Fada segue a necessidade de desenvolvimento emocional do protagonista e dos coadjuvantes. Essa condição não-física da mobilidade no mundo da fantasia permite aos personagens deslocarem-se por reinos, céus, oceanos, mundos inferiores e superiores num “piscar de olhos”. Continue lendo »

Rosas, Prostitutas, Santas e Princesas: Expressões da Feminilidade

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Imagem: A Bela e a Fera de Anne Anderson


Por Angelita Corrêa Scardua


A Rosa é a flor mais presente nos Contos de Fada, seja como figura de fundo ou como elemento essencial à história. Podemos encontrar a Rosa em contos como “As Fadas (Sapos e Diamantes)”, “A Bela e a Fera”, “A Bela Adormecida no Bosque”, “Rapunzel”, “A Pequena Polegarzinha” e muitos outros. Em geral, nos contos em que a Rosa aparece a protagonista é uma jovem mulher, uma donzela prestes a ser “descoberta” pelo olhar/desejo masculino. A moça em questão é, quase sempre, cheia de potencialidades das quais ela mesma não tem consciência. É o encontro com o outro – com o Masculino – que a faz perceber o seu valor como mulher. Em todos esses contos a beleza, a sedução, a paixão e o encantamento são o mote da estória. Continue lendo »