Satã, Uma Imagem Arquetípica do Mal… (Parte I)

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Para começo de conversa, precisamos entender que o ser humano é um ser gregário. Ou seja, seres humanos necessitam da companhia de seus pares para sobreviverem e se adaptarem ao meio. Ao nascermos somos muito frágeis e precisamos de cuidados constantes por um longo período de tempo, até que possamos caminhar com as próprias pernas. Tal arranjo levou a humanidade a se organizar em grupos para obter mais chances de caçar, coletar alimentos e criar os filhotes. Com isso podemos entender que, para o ser humano, a sobrevivência do grupo significaria a sobrevivência do indivíduo. Sendo assim, o grupo tornou-se o fundamento da existência humana e qualquer coisa que o colocasse em risco deveria ser entendida como nociva. Continue lendo »

Satã, Uma Imagem Arquetípica do Mal… (Parte II)

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Uma diferença básica parece haver entre a visão mítica do mal para os judaico-cristãos e para os povos pagãos do ocidente – e aqui incluo, Celtas, Vikings, Gregos, etc. Essa diferença diz respeito ao lugar do mal no universo e na nossa vida. Para os povos pagãos o mal era tão somente uma outra face do processo da vida. Loki, apesar de representar aquilo que os Vikings mais condenavam, não foi banido ou punido, muito menos desprezado ou negado. Ao contrário ele era um deus entre outros deuses, e suas características eram reconhecidas como estando presentes em nossas vidas e em nós mesmos. Tanto é que, muitas vezes, os outros deuses do panteão Viking recorreram a essas mesmas características “condenáveis” de Loki para conseguirem o que queriam. Mais do que isso, Loki era associado ao fogo, elemento do paraíso mítico Viking e fonte de acolhimento para quem vive em terras geladas. Isso revela um aspecto particularmente interessante da visão do “Mal” nas culturas pagãs: que é o entendimento deste como o ponto de equilíbrio necessário para a conquista do “Bem”. O que aponta para um entendimento mais tolerante da pluralidade afetiva da condição humana. Continue lendo »

Quando o Mal Triunfa

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Crianças assassinadas, abandonadas, torturadas – as notícias que têm chocado o Brasil lembram que o lado monstruoso do homem pode até ser contido, mas jamais será definitivamente domado.


A morte de uma menina de 5 anos aparentemente jogada da janela do 6º andar já seria por si só brutal – mas o caso é tanto mais chocante porque o pai da garotinha aparece como suspeito do crime  Os brasileiros que se comoveram com o assassinato de Isabella Oliveira Nardoni acabavam de ser expostos a outra crônica de horrores: a empresária Sílvia Calabresi Lima, de Goiânia, torturava cotidianamente uma menina de 12 anos em sua área de serviço. Ao lado desses casos tenebrosos, outras barbaridades despontam no noticiário: a garota que pulou da janela do 4º andar para fugir do pai agressor, as crianças que ganharam bolo envenenado da vizinha, o bebê jogado no lago. Essa sucessão de fatos macabros traz a incômoda lembrança de uma constante da história humana: a maldade. Continue lendo »

O Mal No Pensamento Moderno

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*Humberto Pereira da Silva


É inegável que eventos que provocam sofrimento inquietam as pessoas educadas de nosso tempo (no passado, o sofrimento de nossos semelhantes talvez exigisse uma outra prática discursiva: o modo como as pessoas se deleitavam quando alguém era crucificado ou servido em banquete para leões no Coliseum entre os romanos não encontra similar como fenômeno público em nossos dias, mesmo nas culturas mais distantes). Parece ser um padrão de nossa época o incômodo diante de situações que causam dor, sofrimento a nossos semelhantes. Daí o sentimento de que devemos buscar explicações acerca do porquê de sermos assaltados por situações que nos causam dor. Continue lendo »

SOMBRA

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Imagem: Aster-oid


1. INTRODUÇÃO

Muitas coisas que nós considerávamos bênçãos tornam-se maldições; a larga estrada estreitou-se, a luz escureceu e, nas trevas a santa em nós, tão bem cuidada e tratada, encontrou a pecadora. Nosso fascínio pela luz, nosso vivo otimismo em relação aos resultados, minha fé implícita em relação aos outros, nosso compromisso com a meditação e com um caminho de iluminação, tudo isso deixou de ser uma graça salvadora e tornou-se uma sutil maldição, um estranhado hábito de pensar e sentir que parecia trazer-nos face a face com o seu oposto, com o sofrimento de ideais fracassados, com o tormento da ingenuidade, o lado escuro, com o do Diabo. Mas o lado escuro aparece sob muitos disfarces. Nosso confronto com ele, na meia-idade, foi chocante e devastador, uma terrível desilusão. Antigas e íntimas amizades pareciam se debilitar e romper, privadas da vitalidade e da elasticidade. Nossos pontos fortes começaram a se fazer sentir como fraquezas, obstruindo o crescimento em vez de promovê-lo. Ao mesmo tempo, insuspeitadas aptidões adormecidas despertaram e vieram à superfície, destruindo a auto-imagem com a qual nós havíamos nos acostumado. Continue lendo »

O Mal e Suas Raízes

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Imagem: Arising Images



Na Colônia, a busca por privilégios e distinção social criou uma nova “nobreza”. Era a origem da nossa desigualdade

*Por Ronald Raminelli

No final de 2001, a Câmara dos Deputados e o Senado aprovaram uma emenda para alterar a redação do artigo 53 da Constituição Federal. Depois de intermináveis debates, ficava garantido ao Supremo Tribunal Federal o poder de processar os parlamentares por crime comum, sem necessidade de licença concedida pelo Congresso.

Na época, a emenda foi considerada uma grande vitória contra a impunidade. Com o passar do tempo, porém, o entusiasmo acabou. Basta abrir os jornais para se ver que essa mudança na lei pouco coibiu os desvios perpetrados por parlamentares. Recorrendo a artimanhas legais, eles conseguem prolongar a tramitação dos processos em que são acusados ou neutralizar as sentenças que os condenam.

E a impunidade não é privilégio dos políticos. A sociedade já se acostumou a ver como os ricos e famosos conseguem viver imunes aos “rigores” da Justiça. Será que nossa História ajuda a entender como se construiu e consolidou esta situação? Continue lendo »

Os Contos de Fada no Processo de Desenvolvimento Humano

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Imagem: “O Príncipe Encantado“, Antiga Fábula Chinesa – Enciclopédia da Fantasia

*Por Joana Raquel Paraguassú Junqueira Villela

Introdução

Podem-se perguntar as razões pelas quais a psicologia junguiana se interessa por mitos e contos de fada. O Dr. Jung, disse certa vez, que é nos contos de fada onde melhor se pode estudar a anatomia comparada da psique. Nos mitos, lendas ou qualquer outro material mitológico mais elaborado obtém-se as estruturas básicas da psique humana através da grande quantidade de material cultural. Mas nos contos de fada, existe um material consciente culturalmente muito menos específico e, conseqüentemente, eles oferecem uma imagem mais clara das estruturas psíquicas (FRANZ, 1990: 25).

Divididos entre o bem e o mal, representados por príncipes, fadas e também por monstros, lobos e bruxas apavorantes, os contos de fadas encantam as crianças e os adultos desde a sua criação, que data da época medieval. Mas a sua função não pára aí, pois além do entretenimento, transmitem ainda valores e costumes e ajudam a elaborar a própria vida através de situações conflitantes e fantásticas. “Mitos e contos de fadas expressam processos inconscientes. A narração dos contos revitaliza esses processos e restabelece a simbiose entre consciente e inconsciente” – já havia dito Carl Gustav Jung, famoso psicanalista e discípulo de Freud (apud CEZARETTI, 1989: 24). Continue lendo »

Era Uma Vez…

Imagem: “Alice” por Arthur Rackhan

Por Angelita Corrêa Scardua

Você já desejou alguma vez viver sem sofrimento, dor, frustração, medo…? A maioria de nós, em algum momento da vida, pensou em como seria bom ‘passar por aqui’ sem ter que vivenciar expe


riências que geram angustia, tristeza e/ou ansiedade, ou seja, viver um Conto de Fadas! Ou, ainda, melhor, o final de um! Isso ocorre principalmente quando atravessamos um período difícil.

Há dois problemas aqui: O primeiro é que uma vida sem experiências negativas é uma impossibilidade; e segundo, é uma ilusão, ou um mal entendido, acreditar que Contos de Fadas não falam de sofrimento. Continue lendo »

O Papel dos Contos de Fadas na Construção do Imaginário Infantil

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Imagem:O Menino de Ouro e o Menino de Prata” – Antiga Fábula Africana da Enciclopédia da Fantasia.


*Por Isabel Maria de Carvalho Vieira


A sensibilidade e o conhecimento profundo do psiquismo humano na sua relação com os contos de fadas nos são revelados pela professora Isabel Maria de Carvalho Vieira nesta abordagem psicanalítica da questão. O artigo em tela tem o mérito de ampliar os conhecimentos dos professores, trazendo à tona questões que se encontram subjacentes a esse tipo de literatura. Desde os primórdios da humanidade, contar histórias é uma atividade privilegiada na transmissão de conhecimentos e valores humanos. Essa atividade tão simples, mas tão fundamental, pode se tornar um rotina banal ou representar um momento de excepcional importância na educação das crianças. Continue lendo »