Cultura: privilégio dos homens?

Preces Para o Funeral de um Gato Egipcio” por John Reinhard Weguelin (1849-1927)

*Por Susana Dias

Em vários animais já foram descritos casos de comportamentos inventados por um indivíduo e aprendidos por outros do grupo. Há casos clássicos entre os primatas. Em chimpanzés têm sido observadas as possibilidades destes se reconhecerem e atribuírem individualidades a outros de sua espécie, de classificarem plantas e selecioná-las para sua alimentação, de usarem ferramentas para obter alimento, de ensinarem a seus filhotes, de cooperarem para solucionar problemas e de criarem estratégias sociais de comunicação, inclusive aprendendo linguagens de sinais dos humanos. Esses comportamentos descritos por pesquisadores das ciências naturais escapam às explicações genéticas e têm sido associados à noção de cultura em animais. Mas seriam esses resultados suficientes para dizer que os animais são seres culturais? A resposta à questão não parece ser simples mesmo para os pesquisadores. Para alguns, afirmar categoricamente que animais não têm cultura é esquivar-se de um interessante debate que os resultados dos estudos em comportamento animal podem promover. Continue lendo »

O Indíviduo Ameaçado Pela Sociedade: Capítulo I

Charge do Amarildo

*Excertos da Obra de Carl Gustav Jung

(…)

Em toda a parte no Ocidente agitam-se estas minorias subversivas que escondem as tochas incendiárias, prontas a brandi-las. Estas minorias trabalham na sombra, ao abrigo mesmo, ó paradoxo, da nossa humanidade e da nossa consciência do direito; de modo que nada se opõe à expansão das suas ideias, se não é o caso do espírito crítico duma certa camada da população, capaz de ponderação e de uma relativa estabilidade mental. Mas não é preciso deixarmo-nos ir até à sobrestimação da importância e do poder desta camada social. Ela varia de país para país em função do temperamento nacional; ela varia também de região para região, sob a influência da instrução e da educação públicas; e ela está além disso submetida à influência de perturbações agudas de origem política ou económica. Segundo estimativas optimistas, baseadas em observações feitas por ocasião de consultas eleitorais, esta camada estável engloba no máximo cerca de sessenta por cento dos votantes. Todavia uma apreciação mais pessimista não parece injustificada nem pode ser descartada sem exame, porque os dotes de razão e de reflexão crítica não são qualidades essenciais do homem. Mesmo quando estão presentes, elas se mostram instáveis, inconstantes, naturalmente vacilantes, e isso, por regra, proporcionalmente ao tamanho dos grupos políticos. O que poderia ainda subsistir de reflexão, de compreensão e de perspicácia no indivíduo encontra-se esmagado pela massa, e é por isso que esta última leva necessariamente à tirania autoritária e doutrinária, desde que o Estado fundado no direito manifeste sinais de fraqueza. Continue lendo »

Habitar o Não-Lugar

*Por Cristiane Dias

A cidade contemporânea é delineada por um espaço muito particular para o qual migram cada vez mais os sujeitos de nossa sociedade: o não-lugar, um espaço “inqualificável”.

Para desenvolver o conceito de não-lugar apoio-me na reflexão de Marc Augé. Para esse autor o não-lugar não inscreve a identidade, nem a relação, nem a história, pois a história é aí reduzida à informação, a identidade a um conjunto de descrições numéricas, como o número do cartão de crédito, da identidade, do passaporte etc., e a relação com o outro é reduzida à espetacularização (tela, video-câmeras, televisão). Nessa perspectiva, o não-lugar demanda um usuário: “definido por seu destino, a soma de suas compras ou a situação de seu crédito, o usuário dos não-lugares anda ao lado de milhões de outras pessoas, mas está só e são os textos (painéis, discos, vídeos) que se interpõem entre ele e o mundo exterior”. Continue lendo »

A Interação Humana Atravessada Pela Midiatização

*Entrevista com o professor Muniz Sodré de Araújo, professor da Escola de Comunicação da UFRJ

Muniz Sodré de Araújo Cabral é jornalista, sociólogo e tradutor brasileiro, professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Escola de Comunicação. Possui graduação em Direito, pela Universidade Federal da Bahia, mestrado em Sociologia da Informação e Comunicação, pela Université de Paris IV (Paris-Sorbonne), e doutorado em Letras (Ciência da Literatura), pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde obteve também o título de Livre-Docente em Comunicação. Continue lendo »

Em Sintonia Com o Coletivo

Em meio à multidão, pessoas comuns podem tornar-se extremamente boas ou más. A decisão de como se comportar dependerá do que pensam que se espera delas.

*por Bernd Simon

(professor de psicologia social da Universidade Christian-Albrechts, em Kiel, Alemanha)

A cela é pequena e suja. Três homens vestindo trajes desbotados estão encolhidos no chão. Quietos, estremecem a cada ruído no corredor. De repente, dois guardas usando uniforme e óculos escuros aparecem na porta, batendo os cassetetes nas mãos. A violência está para começar. Continue lendo »

Dilemas dos Comuns Como Antagonismos Privado–Público

*Por Charles Vlek

Excertos de “Globalização, dilemas dos comuns e qualidade de vida sustentável: do que precisamos, o que podemos fazer, o que podemos conseguir?

Será que estamos vivendo em um tempo em que o privado está se tornando o inimigo do público e, talvez, vice-versa? Lares, negócios, viajantes e transportadores, câmaras de comércio locais e governos municipais; estariam todos eles abusando de sua liberdade de iniciativa às expensas de bens e valores sociais e ambientais coletivos e de longo prazo? Continue lendo »

“Para superar preconceitos, jovens da periferia gastam mais com aparência”

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O estudo foi realizado com jovens de 13 a 21 anos, no Grupo de Assistência Social Bom Caminho, na periferia da Zona Oeste de São Paulo

Agência USP de Notícias

Apesar dos poucos recursos, os jovens da periferia gastam seu dinheiro principalmente em cuidados com a aparência. A escolha é uma tentativa de fugir dos preconceitos que sofrem e serem aceitos pelo seu grupo social e pela sociedade. Essa é uma das constatações obtidas na pesquisa realizada pela cientista social Paula Nascimento da Silva. Continue lendo »

“O dinheiro é como um anel metálico que colocamos em nossos narizes”

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Esta é uma entrevista com Bernard Lietaer feita pela jornalista Sarah van Gelder, editora da revista Yes, revista de futuros positivos, EUA, 1988. O texto em espanhol foi enviado à Primavera, aos 23 de Abril de 2002. Esta tradução é do tipo tradução livre da CAPINA.

Poucas pessoas trabalharam com e sobre o sistema monetário a partir de enfoques tão distintos como Bernard Lietaer, que atuou cinco anos no Banco Central da Bélgica. Aí, seu primeiro projeto foi o desenho e a implementação de uma moeda européia unificada. Lietaer foi presidente do sistema de pagamento eletrônico da Bélgica; desenvolveu para empresas multinacionais tecnologias a serem usadas em ambientes de múltiplas moedas nacionais; também atuou em países em desenvolvimento, contribuindo para melhorar suas poupanças. Ensinou finanças internacionais na Universidade de Lovaina, na Bélgica, país onde nasceu, e, ainda, foi gerente geral e broker (corretor) de uma das grandes empresas de investimento. Continue lendo »

A Origem da Criminalidade_Parte I

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Foto de Pedro Ivo Prates

Sem contar as vidas perdidas, o crime custa ao Brasil mais de 100 bilhões de reais. Para curar essa chaga, é preciso primeiro entender como ela é fabricada.

*por Rodrigo Vergara

A sensação de insegurança no Brasil não é sem fundamento. Somos, de fato, um dos países mais violentos da América Latina, que por sua vez é a região mais violenta do globo. Em uma pesquisa da Organização das Nações Unidas, realizada com dados de 1997, o Brasil ficou com o preocupante terceiro lugar entre os países com as maiores taxas de assassinato por habitante. Na quantidade de roubos, somos o quinto colocado. A situação seria ainda pior se fossem comparados os números isolados de algumas cidades e regiões metropolitanas, onde há o dobro de crimes da média nacional. São Paulo, por exemplo, já ultrapassou alguns notórios campeões da desordem, como a capital da Colômbia, Bogotá. Continue lendo »

Algumas Considerações Sobre “A Mente Criminosa” E As Neurociências

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*Por Rita Cristina C. De M. Couto

Um dos desafios das neurociências é estabelecer pressupostos teóricos sem incidir em estigmas sociais. Quando as possíveis pesquisas envolvem os aspectos subjetivos e individuais da mente associando-os à biologia, esse risco acontece.

O contexto atual, de ampla divulgação científica, mostra que os conflitos teórico-filosóficos inerentes às discussões sobre a mente e o cérebro ultrapassaram o mundo acadêmico. Em novembro de 2007, por exemplo, a Folha Online noticiou um projeto de pesquisa que seria analisado pelo comitê de ética de uma respeitável universidade brasileira, que mapearia, através de ressonância magnética, o cérebro de 50 adolescentes homicidas. Continue lendo »