Persona e Sombra na Família

*Por Luís Vasconcellos

Nos grupos – sociais ou familiares / tribais – nota-se diferenciação de papéis, especialização e estereotipia nos “personagens” delimitados pela situação de vida em que se encontra o grupo. Sua fixidez / repetição / especialização parece uma corruptela de uma organicidade ecológica ( várias espécies convivem em equilíbrio em um mesmo habitat ) e nota-se logo o esforço de todos na manutenção da repetição, da rotina e da permanência de cada qual no papel que desempenha, seja por livre opção ou por escolha imposta pelas necessidades da situação. Continue lendo »

A Sombra nos Arquétipos do Masculino Maduro

Saturno” por Peter Paul Rubens (1577-1640)

Excerto de “Sofrimentos da Alma Masculina: aspectos psicopatológicos do homem numa visão arquetípica”

*Por Humberto Oliveira

3.1 – Introdução

Robert Moore, analista junguiano e pioneiro no movimento masculino e Douglas Gillette sustentam que a masculinidade amadurecida não é agressiva, dominadora nem grandiosa, mas sim geradora, criativa e fortalecedora em relação a si mesma e aos outros. Em seu livro Rei, Guerreiro, Mago, Amante, eles apresentam os quatro arquétipos principais do masculino. Eles apontam que a história do desenvolvimento de cada homem é, em grande parte, a história do seu fracasso ou seu sucesso em descobrir dentro de si esses aspectos da masculinidade madura. Considerando o relacionamento entre a Sombra e cada um destes Arquétipos, Moore e Gillete apresentam uma espécie de tipologia do sofrimento e percalços da alma masculina. Levam em conta as Sombras do Arquétipo do Rei (O Tirano e o Covarde), do Arquétipo do Guerreiro (O Masoquista e o Sádico), do Arquétipo do Mago (O Manipulador e o “Inocente” Negador) e do Arquétipo do Amante (O Viciado e o Impotente). Continue lendo »

O Indíviduo Ameaçado Pela Sociedade: Capítulo I

Charge do Amarildo

*Excertos da Obra de Carl Gustav Jung

(…)

Em toda a parte no Ocidente agitam-se estas minorias subversivas que escondem as tochas incendiárias, prontas a brandi-las. Estas minorias trabalham na sombra, ao abrigo mesmo, ó paradoxo, da nossa humanidade e da nossa consciência do direito; de modo que nada se opõe à expansão das suas ideias, se não é o caso do espírito crítico duma certa camada da população, capaz de ponderação e de uma relativa estabilidade mental. Mas não é preciso deixarmo-nos ir até à sobrestimação da importância e do poder desta camada social. Ela varia de país para país em função do temperamento nacional; ela varia também de região para região, sob a influência da instrução e da educação públicas; e ela está além disso submetida à influência de perturbações agudas de origem política ou económica. Segundo estimativas optimistas, baseadas em observações feitas por ocasião de consultas eleitorais, esta camada estável engloba no máximo cerca de sessenta por cento dos votantes. Todavia uma apreciação mais pessimista não parece injustificada nem pode ser descartada sem exame, porque os dotes de razão e de reflexão crítica não são qualidades essenciais do homem. Mesmo quando estão presentes, elas se mostram instáveis, inconstantes, naturalmente vacilantes, e isso, por regra, proporcionalmente ao tamanho dos grupos políticos. O que poderia ainda subsistir de reflexão, de compreensão e de perspicácia no indivíduo encontra-se esmagado pela massa, e é por isso que esta última leva necessariamente à tirania autoritária e doutrinária, desde que o Estado fundado no direito manifeste sinais de fraqueza. Continue lendo »

“O dinheiro é como um anel metálico que colocamos em nossos narizes”

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Esta é uma entrevista com Bernard Lietaer feita pela jornalista Sarah van Gelder, editora da revista Yes, revista de futuros positivos, EUA, 1988. O texto em espanhol foi enviado à Primavera, aos 23 de Abril de 2002. Esta tradução é do tipo tradução livre da CAPINA.

Poucas pessoas trabalharam com e sobre o sistema monetário a partir de enfoques tão distintos como Bernard Lietaer, que atuou cinco anos no Banco Central da Bélgica. Aí, seu primeiro projeto foi o desenho e a implementação de uma moeda européia unificada. Lietaer foi presidente do sistema de pagamento eletrônico da Bélgica; desenvolveu para empresas multinacionais tecnologias a serem usadas em ambientes de múltiplas moedas nacionais; também atuou em países em desenvolvimento, contribuindo para melhorar suas poupanças. Ensinou finanças internacionais na Universidade de Lovaina, na Bélgica, país onde nasceu, e, ainda, foi gerente geral e broker (corretor) de uma das grandes empresas de investimento. Continue lendo »

Satã, Uma Imagem Arquetípica do Mal… (Parte I)

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Para começo de conversa, precisamos entender que o ser humano é um ser gregário. Ou seja, seres humanos necessitam da companhia de seus pares para sobreviverem e se adaptarem ao meio. Ao nascermos somos muito frágeis e precisamos de cuidados constantes por um longo período de tempo, até que possamos caminhar com as próprias pernas. Tal arranjo levou a humanidade a se organizar em grupos para obter mais chances de caçar, coletar alimentos e criar os filhotes. Com isso podemos entender que, para o ser humano, a sobrevivência do grupo significaria a sobrevivência do indivíduo. Sendo assim, o grupo tornou-se o fundamento da existência humana e qualquer coisa que o colocasse em risco deveria ser entendida como nociva. Continue lendo »

Satã, Uma Imagem Arquetípica do Mal… (Parte II)

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Uma diferença básica parece haver entre a visão mítica do mal para os judaico-cristãos e para os povos pagãos do ocidente – e aqui incluo, Celtas, Vikings, Gregos, etc. Essa diferença diz respeito ao lugar do mal no universo e na nossa vida. Para os povos pagãos o mal era tão somente uma outra face do processo da vida. Loki, apesar de representar aquilo que os Vikings mais condenavam, não foi banido ou punido, muito menos desprezado ou negado. Ao contrário ele era um deus entre outros deuses, e suas características eram reconhecidas como estando presentes em nossas vidas e em nós mesmos. Tanto é que, muitas vezes, os outros deuses do panteão Viking recorreram a essas mesmas características “condenáveis” de Loki para conseguirem o que queriam. Mais do que isso, Loki era associado ao fogo, elemento do paraíso mítico Viking e fonte de acolhimento para quem vive em terras geladas. Isso revela um aspecto particularmente interessante da visão do “Mal” nas culturas pagãs: que é o entendimento deste como o ponto de equilíbrio necessário para a conquista do “Bem”. O que aponta para um entendimento mais tolerante da pluralidade afetiva da condição humana. Continue lendo »

SOMBRA

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Imagem: Aster-oid


1. INTRODUÇÃO

Muitas coisas que nós considerávamos bênçãos tornam-se maldições; a larga estrada estreitou-se, a luz escureceu e, nas trevas a santa em nós, tão bem cuidada e tratada, encontrou a pecadora. Nosso fascínio pela luz, nosso vivo otimismo em relação aos resultados, minha fé implícita em relação aos outros, nosso compromisso com a meditação e com um caminho de iluminação, tudo isso deixou de ser uma graça salvadora e tornou-se uma sutil maldição, um estranhado hábito de pensar e sentir que parecia trazer-nos face a face com o seu oposto, com o sofrimento de ideais fracassados, com o tormento da ingenuidade, o lado escuro, com o do Diabo. Mas o lado escuro aparece sob muitos disfarces. Nosso confronto com ele, na meia-idade, foi chocante e devastador, uma terrível desilusão. Antigas e íntimas amizades pareciam se debilitar e romper, privadas da vitalidade e da elasticidade. Nossos pontos fortes começaram a se fazer sentir como fraquezas, obstruindo o crescimento em vez de promovê-lo. Ao mesmo tempo, insuspeitadas aptidões adormecidas despertaram e vieram à superfície, destruindo a auto-imagem com a qual nós havíamos nos acostumado. Continue lendo »